sexta-feira, 30 de maio de 2008

O guardador de instantes


(Gravura de Franz Krajcberg - acervo do MAM/SP)

Eu entro pra trupe de Caeiro
Não penso nada não faço nada
Não sou ninguém.

Eu quero uma casa no campo
Quero Marília nua na janela
Sentar na cadeira vazia
Não ser ninguém.

Eu passo leve como o vento
Eu visto a camisola eu bebo água
Deixo os pés descalços os filhos descalços
Descalço os medos os modos
As mães as coisas. Eu boto o pé na lama
Eu jogo truco eu varo a noite
Faço uma seresta um desenho uma careta
Amor escândalo e silêncio.

Eu não sou ninguém.

Infarto

Da válvula tricúspide
Restaram apenas
Alguns perdigotos.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ou lipo, ou Lupo



Na fila do caixa na Renner, o marido que acompanha sua mulher pega um pacote da gôndola mais próxima e comenta:

- Puxa, olha só essa meia-calça: diz que afina a cintura, encolhe a barriga, levanta o bumbum e reduz o culote...

- Hum.

Ele olha pra ela, pensa um pouco e pergunta:

- Tem certeza de que não quer levar pra ti?

sábado, 24 de maio de 2008

...

Taquepariu.
A geminiana aqui JÁ cansou da cara do blog. Não adianta, acho que é a síndrome da casa nova: tem que inventar moda, botar uma cortina de crochê, pintar um quadro pra pôr na sala, trocar o piso, arrastar o móvel mais pra lá. O problema é COMO fazer isso no leiaute do blog. Ah, mas eu descubro.
Aguardem novidades - mas só depois de entregar o segundo capítulo da dissertação, porque o bicho tá pegando.

Porcaria

(arte de Isabel de Castro - acervo do MARGS)

Quatro paredes, sete chaves, na cabeça nada.
Palavras em versos tortos
Conduzem o que se traduz
Por carne de pensamento.

Sem um final bonito
Ou uma luz mais forte,
A carne vira um bife malpassado
Daqueles com gosto de bicho morto
E enche a cabeça de porcaria.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Por um fio

(Arte de Pollock)

Traço as linhas em curva do carretel
Tenciono o nó
Nó por nó que desfaz o brio
Gato que enrola
Fio em fio.
Padeço por entre os dedos
Da paciência que ronrona aos meus pés.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Alemão?




Uma vez resolvi que iria aprender alemão.

Sozinha.

Alemão?? - diziam alguns. Sim, acordei um dia, tomei uma benzetacil de ânimo e vam’lá! Me agarrei com as duas mãos naquele dito: “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”. A função durou muito pouco tempo, apesar de a Internet disponibilizar um belo material para autodidatas. Durou pouco porque o princípio que estava alavancando minha atitude e me enchendo de coragem fora fatalmente alterado:

“não sabendo que era impossível, ela foi lá e viu que era praticamente inviável!”

Talvez não pelo alemão em si, falado por Nietzsche e todo mundo, mas pela dificuldade do começo. E como é difícil começar o que quer que seja! Esse texto, inclusive, me veio à cabeça o mote enquanto recolhia as roupas do varal e tive de largar tudo para não perder o começo.

Meu mundo por um bom começo.

Depois disso, vai que vai! Começar uma receita nova de bolo (ai, meus bolos abatumados), uma blusa de tricô, minha dissertação do mestrado, um trabalho novo, um dia novo... voltar das férias, aprender a dirigir, dar uma má notícia, entrar na fila do tobogã...

(Logo vi que alemão é fichinha!)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O velho caderninho

Bom é criar em palavras dentro do caderninho. O santo caderno anônimo de todo dia, que dá a segurança de brincar de casinha e segredar a loucura. É andar de bicicleta sozinho por uma extensa via sem carros e bem iluminada.
Mostrar essas palavras, porém, é o primo mais velho que espia a brincadeira; é conduzir a bicicleta sem as mãos, equilibrando as palavras em um suspiro.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Depois de me reencontrar com meus diários e meus antigos cadernos de poesias - velhos, amarelados e imaturos -, decidi recuperar o lado lúdico da coisa, me artistar de novo, voltar a escrever coisas do coração (que brega isso), ouvir mais música, quem sabe voltar a tocar e a desenhar, pintar e bordar. Difícil. Trop difficile com tanto projeto de gente grande. Mas não adianta. Tem uma creche inteira dentro de mim, suplicando pelo recreio.

Voilà.